quarta-feira, 4 de maio de 2011

OBJETO IDEAL

Estive envolto em pensamentos sobre as nossas escolhas. Desde crianças somos impulsionados a decidir sobre uma ou outra coisa e sempre seguindo padrões pré-estabelecidos. Devemos desistir de uma escolha porque mamãe não deixa, não podemos pôr a mão em nada porque papai não quer, e assim vamos nos moldando de acordo com o ideal de nossos pais, nos transformamos na junção do ideal de ego de ambos e assim trazemos também uma herança neurótica, a sombra de medos da nossa família aliada a sombra de nossos antepassados.
Em nossas escolhas passadas criávamos expectativas sobre cada item. Papai dizia para não escolhermos um brinquedo e fazia uma propaganda gigantesca sobre outro. Assim fantasiávamos as possibilidades incríveis daquela nova escolha em cima do que nos diziam e seguimos posteriormente o mesmo padrão de respostas. Hoje fantasia um objeto falho em objeto ideal, vê possibilidades, enxerga qualidades fascinantes e o transforma exatamente naquilo que você precisa, naquilo que lhe falta. Porém, como tudo que é fantasioso; passamos a enxergar pequenos indícios de realidade com o tempo e acabamos por não suportar o verdadeiro, o real, já que este tem falhas, este é imperfeito e não é o que gostaríamos de ser (sim, gostaríamos de ser aquilo que idealizamos, suprimos nossas faltas no outro). Esse processo de apego com o real é o mais dolorido, ou temos uma postura suficientemente madura para aceitar essas lacunas e redescobrir as reais qualidades ou sucumbimos às nossas frustrações e deixamos de lado o que tanto queríamos, encontramos mil desculpas para nos desfazer disso ou daquilo, nos tornamos indigestos às pessoas e expelimos até para no fim nos confortar dizendo que o outro é quem foi o culpado, é que se afastou (você o afasta).
E assim partimos para nossa próxima “escolha”; aliás, para nossa próxima tentativa de perfeição narcísica, buscando a pessoa ideal, o emprego sensacional e os amigos mais maravilhosos que poderíamos ter (assim nos conformamos por não sermos a pessoa ideal para outro, etc). Melhor nos decepcionar com alguém, que nos decepcionar conosco, é bem mais fácil ver a culpa nessa pessoa, que tentarmos mudar e nos transformar nisso que queremos que o outro seja.

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